Páginas

segunda-feira, 2 de julho de 2012

A Arte e as Dificuldades de ensinar uma criança Autista


1. INTRODUÇÃO
1.1.CONTEXTUALIZAÇÃO
O Autismo foi diagnosticado pela primeira vez há cerca de 60 anos pelo psiquiatra americano Leo Kanner. Que acreditava tratar-se de um distúrbio psicológico, reflexo das atitudes de maus pais, ou, mais especificamente de uma mãe fria e distante. Felizmente essa tese perdeu a credibilidade, porém ainda não se sabe ao certo qual ou quais as causas do Autismo.
Segundo SCHWARTZMAN (1994), o Autismo Infantil (AI) é uma síndrome definida por alterações presentes desde idades muito precoces e que se caracteriza, sempre pela presença de desvios nas relações interpessoais. Trata-se de uma condição crônica com início sempre na infância, em geral até o terceiro ano de vida, com maior incidência entre meninos. Autópcias realizadas em autistas revelaram que as células da região límbica, responsável por medidar o comportamento social, são menores e mais condensadas nos autistas, sugerindo uma interrupção precoce no desenvolvimento dessa parte do seu sistema nervoso. Também, são verificadas alterações cromossômicas em indivíduos autistas, a ocorrência de X frágil, que é uma condição genética herdada,prodizida pela presença de uma alteração mlecular, ou mesmo de uma quebra na cadeia do cromosomo X, condição esta associada problemas de conduta e aprendizagem, que tem sido estudada por vários pesquisadores com resultados bastante discrepantes.
Ainda hoje não existe um consenso sobre as causas do Autismo. Há hipóteses que sugerem uma origem genética oriunda de mutações, outras de viroses e intoxicações por produtos químicos. Por isso, o Autismo é considerado uma síndrome, um conjunto de sintomas que pode ter mais de uma origem, e não uma doença. Pode-se entender Autismo como um destúrbio do desenvolvimento, uma deficiência nos sistemas que processam a informação sensorial recebida. Fazendo a criança reagir a alguns estímulos de maneira excessiva, enquanto que a outros estímulos não.
A Associação Brasileira do Autismo, em 1997, calculou que no brasil existem aproximadamente 600 mil pessoas afetadas pela síndrome do autismo e, a prevalência é quatro vezes maior em meninos do que em meninas.
Para o tratamento, via de regra, um ambiente de educação especial é necessário, onde os profissionais devem ser treinados para lidar especificamente com essas crianças, portadoras de síndrome do autismo. A intervenção deve ser a mais intensiva e precoce possível, realizada por equipe multidisciplinar que inclua psiquiatra da infância e adolescência, psicólogo, neurologista, pediatra, professor, psicopedagogo, fonoaudiólogo e fisioterapeuta, dentre outros.
O professor, ou o educador que pretende trabalhar com alunos em condição de inclusão possui agora uma tarefa que lhe surge como um desafio. BAPTISTA e BOSA (2002) chamam o aluno que chega para a inclusão de novo aluno e o que já faz parte da sala de aula de aluno antigo. A complexidade do desafio suscita ao professor uma angústia que se faz ouvir imediatamente por meio de uma queixa tríplice: “Que posso fazer?”, “Que devo fazer?” e “Que posso esperar?” Tem-se a impressão que o professor coloca-se no centro da situação esquecendo-se que deve se preparar muito para esta tarefa que lhe é imposta.
O aluno está em uma situação delicada, pois da rotina em que se encontrava viverá a transição para uma nova situação. Talvez não traga consigo uma queixa manifesta, mas é certo que terá de se adaptar a um novo contexto, com novas pessoas e novas circunstâncias.
É preciso, então, que seja muito bem-acompanhado nessa etapa de transição. O diagnostico transdisciplinar deve levar em conta o aluno em um contexto anterior, onde ele se encontrava antes de chegar à nova sala de aula. A partir disso, o aluno poderá ser ajudado no trabalho de inclusão. Nessa perspectiva, o centro é o aluno e não o professor.
A avaliação consiste de um exame da situação desse novo aluno, de suas peculiaridades, de suas necessidades e diferenças em relação aos alunos antigos. Para que essa avaliação produza, de fato, um conhecimento que auxilie no trabalho com o novo aluno é preciso que ela seja compartilhada com outros profissionais. Daí a importância do professor receber assistência adequada de uma equipe com profissionais de outras áreas que possam permitir uma articulação transdisciplinar. Cabe ao professor a reivindicar essa assistência e as instâncias que planejam a experiência da inclusão, a implementação.
O trabalho de inclusão impõe modificações no panorama institucional da escola e no interior das pessoas que aí trabalham. Assim, o trabalho deve começar com a mobilização de todos os profissionais, desde a direção, serviços de supervisão e coordenação e, também, de profissionais considerados periféricos como médicos, dentistas e psicólogos. Os professores e os funcionários da escola que lidarão com os alunos de inclusão mais diretamente devem participar dessa equipe de trabalho.
É extremamente importante que o professor/educador busque uma melhoria contínua das suas competências profissionais, dos seus conhecimentos científicos, de suas ideias sobre desenvolvimento e educação. Trabalhar os pré-conceitos é fundamental para o sucesso do trabalho que visa melhorar a qualidade de vida dos portadores de necessidades especiais, especificamente dos autistas.
O professor deve ter um papel significativo para a criança, pois assim maiores serão as chances de desenvolver as suas habilidades, uma vez que os alunos passarão a sentir segurança e confiança no professor. O conhecimento amplo e abrangente da síndrome de autismo, das características específicas da criança que educa e de metodologias de ensino atualizadas é extremamente importante para o professor que pretende realizar seu trabalho dignamente junto dessas crianças.
SCHWARTZMAN e ASSUMPÇÃO (1995), destacam que o professor deve oferecer uma previsibilidade de acontecimentos, que permite situar a criança no espaço e no tempo, na qual a organização de todo o contexto se torna uma referência para a sua segurança interna, diminuindo assim os níveis de angústia, ansiedade, frustração e distúrbios de comportamento. O professor também se beneficia dessa rotina à medida que consegue operacionalizar os objetivos do seu plano de ensino de maneira mais dinâmica e organizada. A rotina deve ser compreendida como planejamento e organização, e não uma restrição à criatividade do professor permitindo a ele a possibilidade de maior visualização sobre todo o seu trabalho.
1.2.OBJETIVOS DO ESTUDO
1.2.1. Objetivo Geral
Verificar possibilidades para uma ação docente mais adequada, possibilitando que as crianças autistas tenham direito a educação de qualidade.
1.2.2. Objetivos Específicos
Analisar a importância da inclusão das criança autistas na sociedade;
Identificar as dificuldades encontradas pelos educadoremem se relacionar com a criança autista;
Verificar como é realizado a interação dos autistas com outras crianças no ambiente escolar.
1.3. JUSTIFICATIVA
De acordo com Bereohff (1991), para educar uma criança autista, é preciso levar em consideração a falta de interação com o grupo, comunicação precária, dificuldades na fala e a mudança de comportamento que apresentam essas crianças.
Neste sentido a autora descreve que “é básico que a programação psicopedagógica a ser traça da para estas crianças, esteja centrada em suas necessidades” (BEREOHFF, 1991, s/pág).
A autora em questão diz que há várias técnicas de ensino para crianças com autismo. Essas técnicas têm o objetivo de prevenir ou reduzir as deficiências primárias. Desta forma:
Educar uma criança autista é uma experiência que leva o professor a rever e questionar suas ideias sobre desenvolvimento, educação normalidade e competência profissional. Torna-se um desafio descrever um impacto dos primeiros contatos entre este professor e estas crianças tão desconhecidas e na maioria das vezes imprevisíveis (BEREOHFF, 1991, s/pág).
Além destas afirmações, algumas técnicas com base na Pedagogia Waldof apud kugelgen, 1960; Lanz (1979, são essenciais na educação dos autistas.
Sabendo que o autista não se adapta ao mundo externo, é preciso que na escola ele tenha uma rotina estruturada, que faz com que ele situe-se no espaço e tempo. O professor também deve fazer parte dessa rotina, compreendendo que a mesma não é uma restrição a sua criatividade.
Ravière apud Bereohff (1984, s/pág), explica que “esta relação põe à prova, mais do que nenhuma outra, os recursos e as habilidades do professor”.
A valorização dos elementos da natureza como sol, a chuva, árvores, estimula o autista a ter um contato e a percepção de seu meio.
A abordagem vivencial é outro fator importante na educação destas crianças tão especiais, pois às vezes o trabalho verbal não é o suficiente, onde o contato físico com o autista é de grande necessidade.
Outro recurso que quando usado no momento adequado e seu estilo estiver de acordo trará bons resultados, é a utilizaçã o da música, as preferências são sempre para as infantis (ciranda – cirandinha). A canção deve estar sempre de acordo com momentos específicos, tais como a chegada, hora do lanche, higiene, para que a criança possa relacionar a música com a atividade em andamento.
Além das técnicas, a rotina diária é muito importante na educação do autista, a qual não deve ser alterada, qualquer mudança pode refletir no comportamento da criança. A importância do ensino estruturado é ressaltado por Eric Schopler in Gaudere r, 1993, no método TEACCH (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Deficiências relacionadas à Comunicação), quando afirma:
É bom ter em mente, que normalmente as crianças à medida que vão se desenvolvendo, vão aprendendo a estruturar seu ambiente, enquanto que os autistas e com distúrbios difusos do desenvolvimento precisam de uma estrutura externa para otimizar uma situação de aprendizagem (s/pág).
Estes cuidados permitirão um maior sentimento de pertinência e de previsibilidade quanto ao espaço físico. A sala deve ter um tamanho que permita a realização de atividades de mesa, individuais e em grupos, contando também com alguns colchonetes e almofadas (SCHOPLER, 1993, s/pág).
Além disso o educador deve basear seu relacionamento com seu aluno em um conhecimento o mais abrangente da síndrome do Autismo, das características da criança e de técnicas atualizadas de ensino.
Entrada: este momento deve ser relatado para o aluno, que já passou, trabalhando informalmente o aspecto temporal.
Oração: o educador estimulará o grupo a realizar junto com ele um momento de agradecimentos, dando início aos trabalhos.
Deve ser valorizado cada momento de fala da criança, assim o professor fará com que o aluno sinta liberdade de expressar-se não só na oração, mas em qualquer outra situação.
História: é necessário que seja contada diariamente, aparecendo fatos reais ou de fantasia situando o aluno dentro do contexto. O conto vai sendo desenhado no quadro com giz colorido, expondo a realidade do aluno em casa, rotina escolar, apontando objetos e pessoas que o rodeiam.
Tarefa: esta é dedicada às atividades dirigidas, sendo elas em mesa, individual ou em grupos, de acordo com os objetivos traçados para cada criança.
Objetivos são traçados a partir do PIE (Planejamento Individual de Ensino), que para sua elaboração são seguidos os seguintes passos:
- a observação do autista em situações livres e dirigidas;
- a seleção dos objetivos orienta-se pela gradação das dificuldades dos alunos;
- O PIE deve ser reformulado a cada ano, permitindo reavaliação dos objetivos e consequentemente a evolução dos alunos.
Para que os objetivos sejam alcançados, Schopler (1993), ressalta que “merece cuidado a preparação do ambiente por parte do educador, ou seja: material pedagógico previamente separado, disposição de carteiras, etc.” (s/pág).
Higiene : esta atividade promove maior independência como lava r as mãos, escovar os dentes, toma r banho, vestir-se, despir-se sozinhos. Estes são trabalhados em momentos específicos dentro do contexto escolar.
Lanche: segundo Schopler (1993), esta é uma situação que prioriza somente a alimentação, mas também permite que um tenha respeito pelo lanche do outro, bem como compartilhá-lo em determinadas situações.
Na hora do lanche o aluno é estimulado a preparar a sua mesa para comer, manusear objetos (copo, prato, talhere s). Esta atividade proporciona o desenvolvimento de hábitos alimentares dentro do contexto escolar.
Recreio: este momento é muito importante dentro da rotina escolar, pois é a hora da integração com a s outras crianças da escola portadoras de necessidades especiais ou não. Neste instante de liberdade o autista deve ser supervisionado à distância, acompanhando se há ou não um momento de integração com os demais.
Passeio: este é realizado fora da escola. Levando em conta que o autista não é sociável, o passeio oportuniza-o a vivenciar situações sociais nas quais a comunidade participa direta ou indiretamente. De um lado, o autista aprende a conviver com a sociedade e de outro a sociedade aprende a compreender este indivíduo portador de necessidades especiais.
Recreação supervisionada: é característica dos autistas aprsentar movimentos esteriotipados com o corpo repetidamente, esta atividade busca ampliar o repertório motor, através de brincadeiras lúdicas, com regras fáceis e materiais diversos. Procura-se nesta hora proporcionar ao grupo momentos de interação, sociabilização e lazer.
Saída: a rotina encerra com a professora estimulando o aluno organizar seu material e a sala de aula.
Considerando a rotina diária descrita é funda mental a pontualidade do aluno à escola, permitindo que ele participe de todas as etapas sem fugir de sua rotina e diminuindo a possibilidade de crises comportamentais durante o período escolar.
É fundamental o educa dor não fugir à esta rotina, pois é indispensável para a educação do autista. Isto se faz necessário, conforme a afirmação de Weihs (1971), que destaca:
Se desejamos compreender e ajudar uma criança autista, devemos por um lado, perceber que somos parte deste ambiente no qual esta criança tem que viver e crescer e, por outro lado, tentar ver seu comportamento, desempenho, habilidades e incapacidades em relação ao que é sempre perfeito nela, a vivência de sua própria personalidade (s/pág).
A partir do momento que reconhecermos nossas dificuldades, fraquezas, deficiências um novo caminho se abrirá e é neste caminho que o educador começa a aprender que ser portador de necessidades especiais não impede ninguém de viver por mais limitante que esta pareça ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário